Os seres humanos não fazem as coisas por acaso. Tudo o que fazemos tem uma razão de ser. Podemos não ter consciência desse motivo, mas existe, sem dúvida, uma força superior por detrás daquilo que nós conhecemos do comportamento humano. Esta força influencia todas as facetas das nossas vidas, dos nossos relacionamentos e das nossas finanças aos nossos corpos e cérebros. Afinal de contas, que força é esta que influencia e irá sempre influenciar-nos para o resto das nossas vidas? DOR E PRAZER!
O que é a DOR e o que é o PRAZER?
Quando um estímulo interage com o nosso corpo, como por exemplo algo afiado que perfura a nossa pele ou até um vírus que nos provoca uma inflamação na garganta, os recetores sensoriais que estão localizados na nossa pele e tecidos enviam uma mensagem para a medula espinhal através de fibras nervosas e dos axónios. A partir daí, a mensagem chega a diferentes áreas do nosso cérebro (tálamo, hipotálamo, etc) onde é processada. Uma vez que o cérebro consegue alcançar um veredicto sobre o tipo de estímulo que acabou de acontecer e a sua intensidade, os sinais são enviados de volta para os recetores e outras partes do corpo para responder a esse mesmo evento. Na sua forma mais básica, este é o mecanismo pelo qual respondemos a estímulos externos e acabamos por sentir dor.
Por outro lado, procuramos ativamente o prazer por causa de um mecanismo de recompensa no cérebro que nos motiva a fazê-lo. Quando antecipamos um evento agradável, o cérebro liberta dopamina, um neurotransmissor que nos motiva a procurar as coisas mais agradáveis. Depois de termos concluído o evento, o cérebro recompensa-nos, de certa forma, libertando opioides que são substâncias semelhantes às substâncias ativas que existem em drogas recreativas e analgésicos. Nós somos projetados para desejar opioides. É este desejo que nos leva alguns de nós a procurar atividades ou substâncias indutoras de prazer repetidamente, acabando por ceder ao vício.
Conceptualmente, estamos preparados para procurar prazer ou o alívio da dor porque isso é importante para a nossa sobrevivência. O sentimento de dor faz com que os nossos corpos reajam de maneira a salvaguardar o nosso bem-estar. O que aconteceria se não sentíssemos dor quando algo nos queimasse? Provavelmente queimaríamos até à morte ou corríamos o risco de criar danos graves nos nossos tecidos. O mero gesto de tirar a mão do fogão ou de um prato quente pode ajudar-nos a evitar esses cenários terríveis. Nos raros casos em que as pessoas não sentem dor, como no caso de pessoas que sofrem de uma condição chamada de insensibilidade congénita à dor, elas acabam por se magoar repetidamente, sem intenção, e que acabam por ter uma esperança média de vida mais baixa que todos nós.
A verdadeira mudança nas nossas vidas
Ocasionalmente, já todos nós ouvimos falar de quantas pessoas querem efetuar mudanças nas suas vidas, mas que não conseguem cumpri-las. Acabam por sentir-se com raiva de si próprias porque sabem que precisam de agir, mas não conseguem fazê-lo. Porque é que isto acontece? Bem, porque as pessoas continuam a tentar mudar o seu comportamento, que é o efeito, em vez de resolverem a causa dele. Compreender e utilizar as forças da dor e do prazer permite-nos a nós criar as mudanças e melhorias duradouras que realmente desejamos para as nossas vidas e para aqueles de quem gostamos mais.
O que é que realmente te impede de tentares criar aquela empresa que estás a planear há anos? O que é que te impede de deixar o orgulho de lado para poderes falar com aquela pessoa de quem gostas realmente? Porque é que estás a adiar a tua dieta há tanto tempo? Porque é que não assumes o controlo da tua vida? O que é que te impede de viveres a tua vida de sonho? Queres saber o porquê? Porque mesmo sabendo que todas essas ações iriam trazer prazer à tua vida, tu simplesmente deixas de agir porque associas mais a dor a fazer aquilo que é necessário do que perderes, realmente, a tua oportunidade. Para a maioria das pessoas, o medo da perda é muito maior do que o desejo de ganho.
Agora eis uma pergunta interessante: porque é que as pessoas conseguem sentir dor, mas não conseguem mudar? Segundo Anthony Robbins, ainda não sofreram dor suficiente. Não atingiram aquilo que ele denomina de limiar emocional. Todos já tivemos momentos nas nossas vidas em que dissemos “Estou farto” ou “Não quero mais isto”. É precisamente neste momento que a dor se torna nossa amiga, pois começa-nos a levar a tomar novas medidas e a produzir novos resultados para as nossas vidas. E o que é que motivou o tomar de todas estas decisões? Foi o desejo de afastar a dor das nossas vidas e de restabelecer o prazer: o prazer do conforto, o prazer da autoestima, o prazer de viver a vida como sonhámos.
Existem muitos níveis de dor e de prazer. Em muitos casos, o sentimento de humilhação é uma forma muito intensa de dor intencional. Noutros casos, o maior prazer que existe é o prazer do êxtase, porém, pode muito bem ser superado pelo prazer do consolo. Mas estas e outras formas com menor intensidade entram todas no nosso processo de tomada de decisão. Grande parte da força que nós temos na nossa vida vem da ideia de que as nossas ações vão levar-nos a um futuro melhor, que todo o trabalho árduo vai valer a pena e que as recompensas ligadas ao prazer estão mesmo ali “ao virar da esquina”.
Todos nós, certamente durante as nossas vidas, tivemos inúmeras experiências que associámos à dor e ao prazer. Mas no que toca às associações das experiências dolorosas, porque é que não as voltamos a fazer? Eis um excelente exemplo: Anthony Robbins no seu livro “Desperte o Gigante que Há em Si”, fala da sua primeira experiência que teve com a ingestão da cerveja. Na sua tenra adolescência, Tony estava mais que decidido em querer experimentar beber cerveja, tal como via muitas vezes o seu pai fazer. Porém, após ter feito o pedido à sua mãe para experimentar, a resposta foi claramente um não. O problema é que a mãe sabia o quão decidido ele estava em querer experimentar e estava com receio que o fosse fazer noutro lado desconhecido e sem que ela soubesse, portanto, pensou melhor e disse lhe que se ele queria beber cerveja, então tinha que beber exatamente como o pai dele bebia. 6 cervejas de seguida. Foi o que lhe propôs. Tony aceitou. Escusado será dizer o que se sucedeu. Tony tinha vomitado a mesa e o chão da cozinha toda logo após a ingestão da 3ª cerveja. A partir daí, Tony associou o cheiro da cerveja a vómitos e a sensações horríveis. O que é que realmente aconteceu? Tony passou a ter uma associação emocional no seu sistema nervoso, uma neuro-associação instintiva, que fez com que ele nunca mais conseguisse beber, muito menos cheirar, qualquer tipo de cerveja. Então, será que as nossas associações de dor e de prazer podem produzir um efeito processual nas nossas vidas? Claro que sim. Com esta associação neuro-negativa, Tony passou a ter muito mais cuidado com quem se dava na escola e até determinou como se aprendia a obter prazer.
O que podemos aprender com tudo isto? Se ligarmos uma dor imensa a algum comportamento ou padrão emocional, estamos a evitar entregar-nos a todo o custo. Podemos usar este entendimento para usar a força da dor e do prazer para mudar praticamente qualquer coisa nas nossas vidas. Nós somos os únicos seres no planeta que têm vidas interiores tão ricas que os acontecimentos não são o que mais nos importa. Antes, é a forma como interpretamos estes acontecimentos que irão determinar o que pensamos em relação a nós mesmos e a forma como vamos agir no futuro. Uma das capacidades que eu mais venero no ser humano é a nossa capacidade de adaptação. Como conseguimos pegar em algo tão mau ou terrível e transformarmos isso em algo bom e satisfatório. Como conseguimos criar novas experiências e maior maturidade com tudo aquilo que aconteceu connosco, seja isso positivo ou negativo. Estamos sempre em constante processo de adaptação, crescimento e maturação nas nossas vidas. Através da nossa força de vontade, podemos pesar algo como a dor física da fome contra a dor psíquica de abdicar dos nossos ideais, por exemplo. Podemos criar um significado muito mais elevado que isso e assumir o controlo. Mas se não formos capazes de direcionar as nossas próprias associações com a dor e com o prazer, não iremos viver melhor do que animais ou máquinas, reagindo continuamente ao nosso ambiente, permitindo que o que quer que seja que venha a seguir determine a direção e a qualidade das nossas vidas.
"O segredo do sucesso é aprender a usar a dor e o prazer em vez de ser usado pela dor e pelo prazer. Se o fizer, terá controlo sobre a sua vida. Se não o fizer, será controlado pela vida." Anthony Robbins
A Dor e o Prazer moldam o nosso destino
Os nossos comportamentos, conscientes ou inconscientes, foram ligados à dor e ao prazer através de muitas fontes: amigos na infância, mães e pais, professores, treinadores, heróis de cinema e de televisão e muito mais. Nós podemos ou não saber ao certo quando é que se deu a programação e o condicionamento. Pode ter sido simplesmente algo que alguém disse, um incidente na escola, um momento embaraçoso ou até uma conquista desportiva. Tudo isto contribui para quem nós somos hoje. Aquilo que nós associamos à dor e ao prazer é aquilo que vai moldar o nosso destino. A verdade é que o que impulsiona o nosso comportamento é a reação instintiva à dor e ao prazer, não um simples cálculo intelectual. Intelectualmente, podemos acreditar que comer alimentos com altos níveis de açúcar é mau para nós, mas continuamos a comê-los. Porquê? Porque não estamos a ser movidos pelo que sabemos intelectualmente, mas sim por aquilo a que aprendemos a associar dor e prazer nos nossos sistemas nervosos. São as nossas neuro-associações que determinam o que vamos fazer. Por muito que gostássemos de acreditar que é o nosso intelecto que nos move, a verdade é que, na maioria dos casos, as nossas emoções (as sensações que associamos aos nossos pensamentos) são o que realmente nos move.
Podemos aprender a condicionar as nossas mentes, corpos e emoções para associar dor e prazer ao que quisermos? Com certeza. Ao mudar aquilo que escolhemos associar dor e prazer, alteramos instantaneamente os nossos comportamentos. Sempre que estamos num estado emocional intenso, sempre que temos fortes sensações de dor ou prazer, qualquer coisa única que ocorra de forma consistente ficará neurologicamente ligada. Portanto, no futuro, sempre que essa coisa única acontecer novamente, o estado emocional voltará. Se queremos assumir o controlo das nossas vidas, devemos aprender a “anunciar” nas nossas mentes e podemos fazê-lo num instante. Como? Basta associar dor aos comportamentos que queremos que acabem, a um nível de intensidade emocional que já nem sequer vamos considerar esses comportamentos nas nossas vidas. Não existem coisas que vocês nunca fariam nas nossas vidas? Pensa nas sensações que associas a essas coisas. Se associar as mesmas emoções e sensações aos comportamentos que deseja evitar, também nunca mais os repetirá. Portanto, basta associar prazer ao novo comportamento que queremos implementar ao invés do outro. Através da repetição e da intensidade emocional, podemos condicionar esses comportamentos no nosso íntimo, até se tornarem automáticos. O primeiro passo é simplesmente tomar consciência do poder que a dor e o prazer exercem sobre cada decisão, e, portanto, sobre cada ação que tomamos. É importante lembrarmo-nos que não é a dor em si que nos impulsiona, mas sim a convicção (a nossa noção de certeza) de que tomar uma determinada ação levará ao prazer. Não somos impulsionados pela realidade, mas sim pela nossa perceção da realidade.
A maioria das pessoas concentra-se em evitar a dor e alcançar o prazer a curto prazo, criando assim a dor a longo prazo para si mesmas. Quantas coisas não adiaste já por razões que achavas equilibradas? Queres perder mais peso baseado nas razões que te vais sentir muito melhor, mais saudável e que vais poder usar aquele tipo de roupa que tanto desejavas. Mas por outro lado, tens as razões de que, para emagreceres, vais ter que fazer dieta, vais ter que lidar com o facto de sentires fome constantemente e de negares a ti própria o impulso de comeres comidas que sabes que te vão fazer engordar mais. Com as razões equilibradas nestes termos, muitas pessoas votam a favor do padrão de adiar as coisas. A curto prazo, evitamos a dor de sentir um bocadinho que seja de fome; em vez disso, entregamo-nos ao prazer imediato de comer algumas batatas fritas, mas isso não dura. A longo prazo, vamo-nos sentir cada vez pior, para não falar do facto que isso causa a detioração da nossa saúde. Lembra-te que qualquer coisa valiosa que desejas exige sempre uma passagem pela dor a curto prazo, para poder alcançar o prazer a longo prazo.
Por outro lado, porque é que as pessoas insistem em relacionamentos insatisfatórios, resistindo a trabalhar para encontrar soluções, ou a pôr-lhes um fim e a seguir em frente? É porque sabem que a mudança levará ao desconhecido, e a maioria das pessoas acredita que o desconhecido será muito mais doloroso do que tudo o que já experimentaram. “Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”, dizem elas. Esta convicção básica impede-nos de fazer as coisas que podiam mudar as nossas vidas. Se queremos um relacionamento íntimo, então temos de superar os nossos medos de rejeição e vulnerabilidade. Se planeamos criar o nosso próprio negócio, devemos estar dispostos a superar o medo de perder a segurança para fazer com que isso aconteça.
A verdade é que as coisas que são valiosas nas nossas vidas exigem que enfrentemos o condicionamento básico do nosso sistema nervoso. Devemos controlar os nossos medos substituindo este conjunto precondicionado de reações e, em muitos casos, transformando esse medo em poder. Afinal, o medo que permitimos que nos controle muitas vezes nem se torna realidade. É possível as pessoas associarem sofrimento, por exemplo, à ideia de andar de avião e agora evitar entrar num: deixam que o medo as controle. Devemos conduzir as nossas vidas no presente e reagir a coisas que são reais, não aos nossos medos do que já foi ou do que pode um dia vir a ser. O que importa lembrar é que não nos estamos a afastar da dor real, mas afastamo-nos sim do que acreditamos que levará à dor.
"A natureza pôs a humanidade sob o comando de dois soberanos, a dor e o prazer. Eles governam-nos em tudo o que fazemos, em tudo o que dizemos, em tudo o que pensamos: cada esforço que pudermos fazer para nos livrarmos dessa submissão só servirá para a comprovar e confirmar." Jeremy Bentahm
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