O que é que nós associamos ao termo da vulnerabilidade? Talvez seja fraqueza, mágoa, medo ou traição. Estas são as emoções mais profundas que as pessoas experimentam quando revelam alguns aspetos de si mesmas para as outras pessoas. Mas eu queria deixar uma coisa bem clara: a vulnerabilidade não é um sinal de fraqueza e pode ser até a nossa maior força.
A vulnerabilidade é uma faca de dois gumes. Quem se protege para não se magoar, deixa de apreciar a intimidade e os seus relacionamentos íntimos. Todos nós somos vulneráveis, não vale a pena tentarmos evitá-lo. Nascemos vulneráveis e permanecemos assim durante toda a nossa infância. A nossa relação com a vulnerabilidade é algo a que estamos familiarizados, mas que abandonamos à medida que vamos entrando na idade adulta. A nossa associação com a vulnerabilidade requer uma mudança de consciência para fortalecer o nosso bem-estar emocional. Não adianta de nada erguer barreiras ao nosso redor à espera de que, ao mesmo tempo, as outras pessoas vejam crescer-nos do lado de fora. O muro que nós construímos impede que a nossa verdadeira natureza seja conhecida pelos outros. Devemos aceitar a nossa vulnerabilidade se desejamos viver uma vida saudável. Mesmo o mais simples ato de baixarmos um pouco a nossa guarda já é um compromisso com o nosso crescimento pessoal.
Muitas pessoas, especialmente aquelas que passaram a vida inteira a tentar esconder as suas emoções, têm dificuldade em saber exatamente aquilo que é a vulnerabilidade. É compreensível. Muitos comportamentos que podem parecer uma demonstração de vulnerabilidade na superfície, são realmente e incrivelmente manipuladores, ou seja, o oposto de vulnerável. Mas querem saber o que é verdadeiramente uma vulnerabilidade genuína? É optar conscientemente por não escondermos as nossas emoções ou os nossos desejos dos outros. Simples. Expressamos apenas livremente os nossos pensamentos, sentimentos, desejos e opiniões, independentemente do que os outros podem pensar de nós. Isto pode ser tão simples quanto elogiar alguém pela sua aparência, aproximar-se de alguém desconhecido e atraente, estabelecer limites claros ou fortes ou expressar o amor eterno por alguém. Pode significar colocar-nos numa posição em que nós podemos ser rejeitados, dizer uma piada que não seja engraçada, afirmar uma opinião que pode ofender os outros ou juntar-nos a uma mesa com pessoas que não conhecemos.
Praticar a vulnerabilidade é realmente tão simples quanto fazer todas estas coisas. Embora ser mais vulnerável seja simples, nem sempre é fácil. Isto porque todas estas coisas exigem que arrisquemos o nosso pescoço a nível emocional de qualquer das formas. É arriscado e muitas vezes existem consequências reais no que toca a ser vulnerável. Mas a chave para a verdadeira vulnerabilidade está naquilo que nós estamos dispostos a aceitar as consequências, independentemente do que seja.
A Vulnerabilidade é mais poderosa do que nós pensamos
Sim, a vulnerabilidade. A sensação de estar exposto e desprotegido. Embora este sentimento seja mais poderoso do que nós pensamos, não é a única parte de ser vulnerável. É também a vergonha que dizemos a nós mesmos que iremos sentir quando partilhamos essa “fraqueza” ou esse “defeito” com outras pessoas que faz com que ser vulnerável pareça ser uma coisa terrivelmente má. Portanto, o que nós acabamos por sentir realmente é vergonha. Uma vergonha que se manifestou não de outras pessoas à nossa volta, mas de uma mera expetativa de que o que estamos a esconder seja algo abominável e que deve ser mantido em segredo. Essa vergonha leva-nos a pensar que a própria vulnerabilidade é algo abominável e que nos leva a mostrar as nossas fraquezas.
A vulnerabilidade pode ser causada por stress e choque. O ato de guardar segredos, traumas e doenças mentais apenas para salvar a face (para aparecer como uma parte normal da sociedade) pode causar mais mal do que bem. Com diferentes culturas, surgem diferentes estados mentais e abordagens da vida. Além disso, nenhuma cultura, religião ou escola de pensamento será adequada para todos. Então, porque é tão importante parecer “normal”, não afetado ou frio como parte do nosso eu habitual? Esse desejo de “manter as aparências” é o oposto do que a realidade revela regularmente.
Assim como o stress, a vulnerabilidade é e tem sido necessária para o desenvolvimento humano, pois determina os tipos de relacionamentos que temos e a importância das pessoas nas nossas vidas. As pessoas precisam de saber onde estão na vida uma da outra. Essa intimidade é necessária. Assim como a autoestima, a vergonha associada à vulnerabilidade pode vir da nossa própria mente. As coisas que assumimos que as pessoas pensariam não foram provocadas por elas ou por outras pessoas e, portanto, não têm fundamento. Nós realmente somos o nosso maior apoio e o nosso maior crítico de uma só vez.
As nossas partes fraturadas
A vulnerabilidade é um ato de coragem, porque nós nos fundimos com o nosso eu autêntico, em vez de nos escondermos atrás de uma fachada para apaziguar os outros. É no desconhecido que está o nosso maior potencial. A natureza humana é imperfeita, mas o paradoxo é que estamos inteiros nesta esfera de imperfeição. Para adotar a vulnerabilidade como a nossa maior força, precisamos de tomar consciência dos nossos pontos negativos. A retaliação leva ao sofrimento, pois é provável que nós iremos defender a nossa dor como um animal ferido. O neuropsicólogo Mario Martinez, no seu livro “The MindBody Code”, afirma “A ferida que tu escolhes para interpretar a tua dor torna-se num escudo de proteção contra o perdão, porque o liberta do rancor. Significa estar vulnerável novamente”. A vulnerabilidade envolve o processo de curarmos as nossas partes fraturadas, fundindo-se com a totalidade do nosso ser.
Consideremos isto como um quebra-cabeças espalhado pelo chão. Alguns podem dizer que o quebra-cabeças está incompleto, dado que as peças estão caídas no chão. No entanto, reunindo-as, nós criamos a imagem completa, peça por peça. Este é o coração da nossa história de vida. Nós repudiamos as nossas partes fraturadas, em vez de as tentarmos juntar. Tu és uma obra-prima. No entanto, tu concentras-te em partir-te aos bocados da mesma maneira que uma pintura a óleo é rasgada quando está exposta aos elementos. A pintura não é menos bonita por causa das suas falhas. É examinando de perto que nós reconhecemos os defeitos, ignorando a imagem completa.
"Vulnerabilidade é aparecer e ser visto. É difícil fazermos isso se estivermos aterrorizados com aquilo que as pessoas vão dizer ou pensar" Brené Brown
Exemplos de Vulnerabilidade Genuína
ADMITE QUE NÃO PRESTAS NALGUMA COISA
Pensa nisto: se alguém é realmente mau em alguma coisa, provavelmente não há nada mais digno de vergonha do que quando se gabam abertamente de como são boas nisso. Por outro lado, quando alguém admitir abertamente que realmente é péssimo nalguma coisa, tu provavelmente acabarás respeitando-a mais por isso.
Se tu não prestas no que toca a relacionamentos, conta a um amigo e pede um feedback sobre o que acha que tu deves realmente fazer. Se tu não és bom a relacionares-te com as pessoas no trabalho e achas que isso afeta demasiado o teu desempenho no mesmo, diz a alguns dos teus colegas que tu estás a ter e verifica se eles têm algum conselho que te possam dar. A questão aqui é que tu não estás a tentar ser quem não és. Tu aceitas-te como tu és, com falhas e tudo. As pessoas irão ver isso como um bom comportamento incrivelmente confiante e irão responder da mesma maneira.
ASSUME A RESPONSABILIDADE EM VEZ DE CULPARES OS OUTROS
Todos conhecemos alguém que está sempre a culpar as outras pessoas por todos os seus problemas.
A razão pela qual o facto de assumir a inteira responsabilidade pelos nossos problemas é tão poderosa é porque ela nos coloca no controlo da situação. Quando nós culpamos os outros, estamos a entregar o controlo a todos e a tudo que está ao nosso redor.
Nós podemos não ser culpados pela nossa má situação atual, mas intensificar e dizer que nós vamos tomar conta disso é um enorme movimento de poder e controlo. Isto mostra que nós não estamos preocupados com as pressões externas de olhar, agir e sentir de uma certa maneira que, em vez disto, aceitamos a realidade tal como ela é e decidimos trabalhar com o que temos. É um excelente exemplo de vulnerabilidade, porque nós conseguimos dizer a nós próprios “Estou com um problema. Eu não sou perfeito, mas tudo bem. Eu posso lidar com isto”.
DIZ A ALGUÉM QUE ESTÃO A SER INSENSÍVEIS
Este pode parecer um exemplo óbvio de vulnerabilidade para algumas pessoas, mas na verdade não é tão comum quanto nós imaginamos. Muitos de nós tentamos colocar uma pele grossa e apenas sorrimos e aguentamos quando as pessoas tocam nos nossos pontos mais dolorosos.
Pode ser tão simples quanto alguém fazer um comentário ou uma piada sem sentido sobre nós ou alguém ao nosso redor que foi longe demais. Ou talvez seja o quão insensível o vosso companheiro/companheira às vezes é (que talvez não saiba que está a ser insensível).
Alertá-los para quando realmente cruzam a linha e o torna vulnerável. Acabamos por estar a divulgar os nossos sentimentos e opiniões sobre a outra pessoa. É arriscado. As coisas podem piorar. Algumas pessoas irão levar mais a sério do que outras. E algumas pessoas podem até ficar irritadas. Mas se tu sabes o que representas e o que defendes, esta é uma forma muito poderosa de vulnerabilidade.
Observa, no entanto, que há uma diferença entre chamar alguém por ser cruel ou prejudicial e chamar alguém porque tu simplesmente não concordas com ela. O último é simplesmente tretas e apenas torna as coisas piores, não melhores.
DIZ A ALGUÉM QUE OS RESPEITAS/APRECIAS/ADMIRAS/AMAS
Esta pode ser a forma definitiva de vulnerabilidade e provavelmente é a mais fácil de atrapalhar. Isto significa simplesmente dizer a outra pessoa que ela é engraçada, deixar o teu amigo saber que tu realmente admiras quem ele é como pessoa, expressar respeito e amor aos teus pais e, sim, até confessar o teu amor eterno para alguém.
Tudo isto exige que nós sejamos vulneráveis, porque nós nunca sabemos exatamente como alguém se sente a nosso respeito, o que pode significar que os sentimentos deles podem não corresponder aos nossos, o que pode criar um desequilíbrio no relacionamento ou que pode mudar a dinâmica do relacionamento.
CONCLUSÃO
Uma das coisas mais interessantes que mais me chamou a atenção para este tema da vulnerabilidade foi uma TedTalk realizada por uma investigadora que estuda a conexão humana, Bréne Brown. Nesta pequena conversa de 20 minutos, percebi que aquilo que não podemos medir, não existe. Os relacionamentos são o que dão significado e sentido às nossas vidas.
A vergonha explica-se facilmente como o medo da dissociação. As únicas pessoas que não sentem vergonha são aquelas que são incapazes de sentir empatia humana. O que mais fundamenta isto é uma vulnerabilidade atroz. Esta ideia de que, para que as relações aconteçam, temos que nos permitir sermos vistos, realmente vistos.
Nós insensibilizamos a vulnerabilidade. Porém, não conseguimos insensibilizar seletivamente as nossas emoções. Ao insensibilizarmos a dor, o medo, a vergonha e o desapontamento estamos também a insensibilizar a alegria e a gratidão. Insensibilizamos a felicidade e depois sentimo-nos infelizes e andamos à procura de objetivos e significados durante toda a nossa vida. Acabamos onde? A sentir-nos vulneráveis. Sem cuidado algum, não passamos deste ciclo vicioso.
Tenham coragem de ser pessoas imperfeitas. Tenham compaixão de serem gentis com vocês próprios primeiro, porque nós não conseguimos ser verdadeiramente gentis com os outros a menos que sejamos connosco primeiro. Acreditem que aquilo que vos torna mais vulneráveis é também aquilo que vos torna pessoas mais bonitas. Não tomem a vulnerabilidade como algo doloroso ou vergonhoso, mas sim algo que é necessário. Coloca-te à disposição de fazer uma coisa onde não tenhas quaisquer garantias.
TEMOS O HÁBITO DE TOMAR POR GARANTIDO TUDO AQUILO QUE É INCERTO.
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